quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Lendas: Rabah Madjer

As origens humildes

Rabah Mustapha Madjer nasceu em Hussein Dey nos arredores de Argel, na então colónia francesa da Argélia a 15 de dezembro de 1958. Quatro anos depois de Madjer nascer, a sua Argélia natal conquistou a independência após um logo conflito. Com a paz, a vida voltou à normalidade nas cidades, e como muitos miúdos no norte de África, Madjer já pôde crescer a jogar à bola pelas ruas da medina.
Qualquer espaço amplo era um campo, duas pedras eram uma baliza, com uns jornais enrolados numa meia fazia-se uma bola. E como tal, a história do menino Rabah é igual à de muitos outros jogadores magrebinos.
Aos 14 anos passou a jogar pelas escolas do Onalait d’Hussein-Dey. Dois anos depois estreou-se com a camisola do NA Hussein Dey, iniciando a sua carreira profissional.
Em 1978 o clube vence a final da Taça da Argélia e qualifica-se para a Taça africana dos Vencedores das Taças.
Para surpresa de muitos, no ano seguinte chega à final da competição onde perde os dois jogos com os guineenses do Horoya AC.
O mundial de Espanha
Depois do «quase sucesso» com a sua equipa, Madjer torna-se fundamental na caminhada da Argélia para o mundial de Espanha em 1982 ao apontar o último golo da vitória por 2x1 sobre a Nigéria, que confirmou a primeira presença dos magrebinos num Campeonato do Mundo.
Nos campos de Espanha não se esperava muito dos africanos, mas a verdade é que logo no primeiro encontro no El Molinón, em Gijón, a Argélia surpreendeu toda a gente e venceu a RFA por 2x1 com um golo do inevitável Madjer - o primeiro de sempre da Argélia numa fase final -.
Depois de uma derrota com a Áustria no segundo jogo (0x2) a Argélia precisava de vencer a última partida para chegar à fase seguinte e esperar pelo resultado do jogo entre austríacos e alemães.
Uma vitória suada por 3x2 sobre o Chile - depois de ter estado a vencer por 3x0 - parecia bastar para os argelinos fazerem a festa.
Mas no dia seguinte a RFA venceu a Áustria por 1x0, um resultado que qualificava as duas seleções europeias.
O mundo presenciou, escandalizado, a um triste espetáculo em que duas equipas chutavam a bola para o outro lado do campo até ao apito final, para no final festejarem o apuramento.
Após este vergonhoso encontro, a FIFA tornou obrigatório que as partidas das últimas jornadas fossem sempre jogadas ao mesmo tempo.

O salto para a Europa

Depois da surpreendente prestação da Argélia no Campeonato do Mundo o nome de Madjer tornou-se conhecido fora de África e rapidamente foi contratado por um clube francês, o RC Paris. Em dois anos no Racing Madjer completou 50 jogos nos quais apontou 23 golos, despertando o interesse do Tours FC, para onde se mudou em 1985.
Entretanto, em 1986 a Argélia qualificava-se para um novo mundial, desta feita o do México. A sua carreira não foi famosa. Depois de um empate com a Irlanda do Norte por 1x1 na estreia, as esperanças caíram por terra após duas derrotas, com o Brasil (0x1) e com a Espanha (0x3).
Apesar de não ter feito um Mundial ao nível de 1982, Madjer voltou a despertar o interesse do mercado e desta vez saiu de França para jogar em Portugal, no FC Porto, talvez sem imaginar o alcance de tal passo na carreira...

Um calcanhar para a história
Em 1987 o FC Porto fez história e pela primeira vez chegou à final da Taça dos Campeões. Pela frente estava o Bayern München, um gigante do futebol europeu.
Após uma primeira parte fraca dos azuis e brancos, o Bayern ganhava por 1-0 e todos acreditavam que o destino estava traçado.
Contudo Madjer, Futre e companhia tinham outras ideias...
E aos 77 minutos uma jogada de Juary pela direita é magistralmente finalizada por Madjer com um mágico calcanhar.
Como que não satisfeito com um dos mais belos golos de sempre, Madjer avança pelo lado esquerdo e centra para Juary fazer o 2-1 apenas dois minutos depois.
Em 1987 o FC Porto fez história e pela primeira vez chegou à final da Taça dos Campeões. Pela frente estava o Bayern München, um gigante do futebol europeu. Após uma primeira parte fraca dos azuis e brancos, o Bayern ganhava por 1x0 e todos acreditavam que o destino estava traçado. Contudo Madjer, Futre e companhia tinham outras ideias...
Aos 77 minutos uma jogada de Juary pela direita foi magistralmente finalizada por Madjer com um calcanhar «mágico». Como que não satisfeito com um dos mais belos golos de sempre, Madjer avança pelo lado esquerdo e centra para Juary fazer o 2x1, dois minutos depois. O FC Porto era Campeão Europeu e Madjer tornava-se uma estrela na Europa.
No ano seguinte os dragões conquistaram a Taça Toyota (Intercontinental) em Tóquio, batendo o Peñarol, do Uruguai, na final. Novamente o golo decisivo foi da autoria do argelino e no fim foi premiado como o melhor jogador em campo, recebendo como prémio um carro da marca automóvel nipónica.
O fim da carreira: Valencia e Qatar

Depois seguiu para Valência onde o esperava um contrato milionário com o clube local. Mas desta vez, Madjer não foi feliz em Espanha e regressou pouco depois ao Porto após participar em 14 jogos e apontar quatro golos.
Vitoriado e amado pelos adeptos, vestiu de azul e branco até 1991, ano em que foi tentar a sorte no SC Qatar, seduzido pelos «petro-dólares». Foi perto das margens do golfo pérsico que Rabah Madjer, o maior jogador de sempre nascido na Argélia, terminou uma carreira de sucessos e glórias, que demonstrou ao mundo e muito particularmente aos europeus que os grandes jogadores não eram só europeus ou sul-americanos.

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