Interior direito, no começo, armador de jogo na segunda parte da sua carreira, exímio nos passes certos, Hernâni jogava com a «inteligência toda».
Num Académica-Porto, em 1956/57, marcou um dos mais belos golos do seu historial. Apoderara-se da bola, ainda no meio campo portista, ultrapassa os médios da Académica, sempre em alta velocidade, saem-lhe os defesas a caminho, também eles a falhar nos argumentos...
Ramin vê o perigo, sai da baliza, mas quando dá o segundo passo, Hernâni, descaído sobre a esquerda, remata forte, com a parte de fora do pé direito, ainda fora da área, e coloca-lhe a bola no fundo da baliza.
Na bancada central estava o saudoso médico da Mealhada, Dr. Dias dos Santos, um fervoroso adepto academista. Ao ver a facilidade e a velocidade com que Hernâni se aproximava da baliza da sua Académica, levanta-se aos gritos: «Querem ver que o cavalo mete golo, querem ver que o cavalo mete golo!»
E é que meteu mesmo.
O próprio Hernâni considerou-o um dos golos mais bonitos do seu historial de jogador.
Essa facilidade com que driblava, em zig-zagues curtos e em velocidade, foi um dia realçada por Alves dos Santos no seu programa televisivo «Domingo Desportivo».
Disse Alves dos Santos aos «Senhores telespectadores» que reparassem na magistral jogada de Hernâni a construir e depois a oferecer o golo, quase feito, ao seu colega António Teixeira.
Foi no Barreiro. Hernâni em jogada semelhante a do Académica-Porto, também ele partiu uns metros à frente da sua área, foi driblando um a um, todos quantos encontrou, quase sempre em linha recta, e já dentro da área adversária, toca a bola para Teixeira que seguia à sua direita para fazer o golo.
Poucos meses antes de morrer Hernâni ouviu de um amigo e fidelíssimo dragão palavras de grande elogio. Hernâni ouviu a recordação de alguns dos seus melhores golos.
Orgulhoso (para quê a falsa modéstia?) Hernâni rematou:
-Sabe, até Eusébio tinha grande admiração por mim, tratava-me por «Sr. Hernâni».
(Eusébio estava no princípio do seu reinado, quando o jogador portista preparava a sua despedida do Futebol).
Hernâni vivia desafogadamente quando a morte o levou, a 5 de Abril de 2001.
Inteligente na arte do futebol, inteligente na sua conduta como homem, como industrial, como comerciante.
Teve sempre os seus magníficos pés no presente, e os olhos bem abertos no futuro.
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